Às vezes a vida nos surpreende.

Hoje perdi a hora. Acordei me sentindo mal, febril e com enjoo. Pulei da cama quando me dei conta do horário, mas não sem antes pensar que aquelas duas horas de atraso seriam adicionadas às inúmeras horas de estágio que precisarei repor.

Corri para baixo do chuveiro e me vesti com uma rapidez sem igual. Saí correndo e, enquanto eu fazia o trajeto diário de quatro quarteirões até o ponto de ônibus, começou a chover. Obviamente eu havia deixado o guarda-chuva em casa.

Cheguei no ponto de ônibus. Este demorou mais do que o normal para chegar, lógico. Todos os pensamentos positivos para o meu dia foram se esgotando na medida em que a água da chuva entrava pela janela do ônibus e molhava minha roupa — jeans claros e camiseta branca.

Foi então que um senhor passou pela catraca e sentou no lugar vago, exatamente na minha frente. Olhou para mim e perguntou se eu estava indo para a universidade e qual curso eu fazia. Enquanto eu o respondia, ele colocou uma sacola no colo, tirou duas folhas dela e me deu.

“Certa vez eu entreguei isso para uma jovem que estava indo para a universidade também. Ela amassou e jogou fora. Tadinha, essa nunca vai conhecer nada na vida.”

Ele se levantou e foi embora. Peguei as folhas para ler. Eram poesias. A Interpretação do Lindo, O Jardim da Vida e Meu Ranchinho. Todas assinadas por um tal de Hildeberto Rubin Alessio — certamente o nome do senhor que conversou comigo.

Sorri para mim mesma, levantei e desci do ônibus no mesmo ponto de sempre.

Olhei para o céu.
A chuva havia parado.

Sobre Carlo e sua Branca

Hoje, saí de casa para ir à aula, como de costume. Estava apreensiva pela prova que eu ia ter, pois não sabia o conteúdo.

O dia estava lindo, ensolarado e quente. Esperei o ônibus e entrei nele, como faço todos os dias. Felizmente, consegui um lugar para sentar, pois estava muito cheio e eu estava com a mochila muito pesada.

Minutos depois que eu havia conseguido um lugar, entra um rapaz pela porta dos fundos, cheio de bagagens e pedindo para alguém passar o cartão para ele na catraca. Uma mulher se voluntariou e ele pagou a ela o valor da passagem. Deixou sua grande bagagem perto de mim e foi até a catraca passar.

Quando ele volta para o seu lugar, começa a conversar. A senhora que estava ao meu lado interage com ele, e ambos se falam em espanhol. Como não sei o idioma, apenas observo e tento entender algumas palavras.

Quando a senhora desce do ônibus, ele senta ao meu lado. Juntos, tentamos conversar em “portunhol”. Seu nome é Carlo, e ele é da Colômbia. Sua cachorrinha, que estava com ele em uma das mochilas, é do Equador e se chama Branca. Ele disse que está no Brasil há 15 dias, e pretende ficar seis meses para conhecer o máximo que puder do país.

Entre nossa conversa até o terminal de ônibus para o qual estávamos indo, perguntei a ele para onde ele pretende ir depois que visitar todo o Brasil. Com um sorriso, ele responde que não sabe, e com um perfeito português diz “hoje que importa, não amanhã. É sempre o hoje.”

No terminal, ele pede para eu cuidar das coisas dele. Quando volta, conversamos mais um pouco. O outro ônibus chega, subimos e aviso para ele onde fica a rodoviária. Dois pontos depois, eu desço. Ele agradece, diz um “prazer em conhecê-la” em espanhol, eu respondo o mesmo e digo boa viagem.

Desço para ir para a aula e ele continua na sua viagem pelo mundo.

E assim, foi mais um dia na minha vida de ônibus. (:

Outro pequeno acontecimento

Há alguns dias ganhei de presente uma câmera analógica. Sempre quis uma.
Ontem levei minha câmera para a aula. Depois desta, resolvi fotografar uma praça que acho muito bonita aqui no centro de Campo Grande.
Eis que paro para fotografar um lugar na praça e quando termino a foto, olho para a frente de vejo dois garotos me olhando. Olho para eles e um diz “ei, sabia que já existe câmera digital?!”.

Concordo, dou risada e vou embora, ainda rindo.

Vida de ônibus

Olá!

Primeiramente, peço perdão pela ausência. A minha vida está mais corrida do que eu gostaria (ou não. Gosto da correria.) e acabo não tendo muito tempo para parar e escrever.

Porém, como já devo ter dito algumas vezes, chega uma hora em que eu sinto que preciso escrever. No caso, a hora seria agora.

Este ano a minha rotina mudou bastante, e dentre as mudanças, uma que vale muito ressaltar é a minha vida dentro do ônibus. Todos os dias, idas e voltas para a aula, para a autoescola, para o centro da cidade e por aí vai. Nessas minhas andanças de ônibus, vão acontecendo várias coisas interessantes, e com medo de perdê-las no fundo da minha memória, começarei a escrever aqui na categoria que chamarei de Vida de ônibus. Como não acontecem tantos casos assim, vou postar também acontecimentos dos quais vou querer lembrar daqui alguns anos.

E para começar, escreverei algo que me aconteceu há uns meses, dentro do ônibus.

Eu gosto de dar o lugar para pessoas mais velhas que eu — certo, para idosos. Pessoas que eu vejo que são muito novas eu deixo para lá, afinal, eu sofro no ônibus do mesmo jeito! haha
Em uma dessas vezes que fui dar o lugar para um senhor, ele olhou para mim e disse “não precisa não, minha filha. Daqui a pouco já vou descer, mas Deus te abençoe!”. Sorri para ele, que já estava se dirigindo para a porta. No meio do caminho, ele voltou e disse “vou rezar para que os seus sonhos se realizem!”. E enquanto eu sorria, ele tornou a dizer “mas você tem que ajudar também. Temos que correr atrás dos nossos sonhos!” e foi andando para a porta novamente.
Antes de sair, ele rapidamente olhou para mim, e sorrindo disse “sou o homem dos provérbios!”. Logo após, ele desceu.
Não tornei a vê-lo novamente, exceto em minhas lembranças.

Entenderam o porquê de eu querer guardar esses momentos em algum lugar?

Espero que tenham gostado!
Até mais :)