Às vezes a vida nos surpreende.
Hoje perdi a hora. Acordei me sentindo mal, febril e com enjoo. Pulei da cama quando me dei conta do horário, mas não sem antes pensar que aquelas duas horas de atraso seriam adicionadas às inúmeras horas de estágio que precisarei repor.
Corri para baixo do chuveiro e me vesti com uma rapidez sem igual. Saí correndo e, enquanto eu fazia o trajeto diário de quatro quarteirões até o ponto de ônibus, começou a chover. Obviamente eu havia deixado o guarda-chuva em casa.
Cheguei no ponto de ônibus. Este demorou mais do que o normal para chegar, lógico. Todos os pensamentos positivos para o meu dia foram se esgotando na medida em que a água da chuva entrava pela janela do ônibus e molhava minha roupa — jeans claros e camiseta branca.
Foi então que um senhor passou pela catraca e sentou no lugar vago, exatamente na minha frente. Olhou para mim e perguntou se eu estava indo para a universidade e qual curso eu fazia. Enquanto eu o respondia, ele colocou uma sacola no colo, tirou duas folhas dela e me deu.
“Certa vez eu entreguei isso para uma jovem que estava indo para a universidade também. Ela amassou e jogou fora. Tadinha, essa nunca vai conhecer nada na vida.”
Ele se levantou e foi embora. Peguei as folhas para ler. Eram poesias. A Interpretação do Lindo, O Jardim da Vida e Meu Ranchinho. Todas assinadas por um tal de Hildeberto Rubin Alessio — certamente o nome do senhor que conversou comigo.
Sorri para mim mesma, levantei e desci do ônibus no mesmo ponto de sempre.
Olhei para o céu.
A chuva havia parado.